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O golpe de mídia do presidente Rafael Correa
A distância exata entre o motim policial que paralisou o Equador na última quinta-feira e o que poderia caracterizar um golpe de estado ainda é desconhecida. Mas os desdobramentos internacionais e domésticos, para o governo de Rafael Correa, não deixam dúvida de que o presidente conseguiu, pelo menos momentaneamente, faturar em cima da repercussão do episódio nas TVs, jornais e na internet. Desde que deixou o hospital, deixando para trás um saldo de oito mortos e cerca de 300 feridos, Correa capitaliza a seu modo os efeitos de seu golpe de mídia. O reality show de Correa na TV parece dirigido por seu ídolo venezuelano, Hugo Chávez. Ao saber que os policiais estavam amotinados, o presidente encarou a concentração e desafiou os rebelados a matá-lo. O capítulo seguinte foi o suposto seqüestro em que foi mantido no Hospital da Polícia. Foi, provavelmente, o primeiro sequestro da história em que a vítima deu entrevistas enquanto mantida no cativeiro, fez contatos com aliados políticos e permaneceu cercado por assessores. “Ele andava pelo pátio, pedia café, água e era atendido”, afirmou, ao Expresso, uma paciente que estava internada no quarto vizinho ao do presidente.
O embaixador do Brasil no Equador, Fernando Simas Magalhães, pondera que, apesar de não se ter ainda a exata medida do quanto o episódio se aproximou de um golpe de estado, é indiscutível que havia, naquele momento, uma ameaça real à manutenção do presidente no cargo. “Não é aceitável a idéia de um presidente da república, em uma democracia, ser impedido de se deslocar, com aeroportos e vias fechadas, num clima de sublevação em que a postura das forças militares não está bem definida”, explicou Magalhães. Acusar um golpe de estado foi, no plano internacionalmente, a medida mais astuta que Correa poderia adotar. Ao caracterizar desta forma o motim, o presidente provocou uma reação acelerada da União de Nações Sul-Americanas (Unasul), que repudiou o levante e emitiu sinais de que os vizinhos sairiam em defesa de Correa. “Não tenho dúvida de que, se houve ameaça real de golpe, quem freou esse processo foi a Unasul”, assegurou o embaixador brasileiro. De muletas, mas fortemente amparado pela repercussão internacional e na comoção com a morte de policiais e manifestantes, Rafael Correa promoveu, no sábado, um terceiro episódio do reality show. Em uma coletiva de duas horas, exibiu imagens dos confrontos e dos mortos para emoldurar seus comentários – com direito a fundo musical que ajudava a dar dramaticidade às falas do chefe do executivo venezuelano. (A reportagem é da Veja.)
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