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A última revolução sangrenta da Europa

21 dezembro 2009

Há 20 anos, corria o sangue na Roménia. Numa revolução, a população derrubou o regime comunista. No dia decisivo, 21 de Dezembro, o ditador Nicolae Ceausescu organizou uma manifestação de apoio, mas as cem mil pessoas começaram a apupá-lo e a gritar "Timisoara". Quatro dias depois, Ceausescu e a mulher, Elena, foram fuzilados. Há 20 anos, viviam-se dias dramáticos em toda a Roménia. O regime comunista mais violento do bloco de leste estava a cair depressa. O ditador Nicolae Ceausescu baseara o seu poder no culto da personalidade e num aparelho repressivo que se infiltrara em todas as camadas da sociedade. Nos meses anteriores, a Roménia assistira impotente ao colapso dos regimes comunistas de países vizinhos. O Muro de Berlim ruíra semanas antes, mas o regime não dera qualquer sinal de querer reduzir a pressão. O dia decisivo da revolução romena ocorreu a 21 de Dezembro de 1989, quando uma manifestação de massas em Bucareste se transformou em revolta. Mas o regime comunista começara a cair dias antes, num incidente que envolveu a etnia húngara da Transilvânia. A 16, centenas de pessoas juntaram-se em Timisoara, junto à casa do pastor protestante Laszlo Tökes, para evitar que este fosse preso pela Securitate, a polícia política. Timisoara é a segunda cidade romena e tem uma pequena comunidade de origem húngara, a qual reagia às aberturas políticas na vizinha Hungria. No entanto, o protesto em Timisoara alastrara a toda a população, apesar de a polícia não hesitar em disparar contra os manifestantes. A 21 de Dezembro, Ceausescu organizou em Bucareste uma manifestação de massas, transmitida pela televisão, que deveria constituir o sinal para eliminar os focos de contestação. Mas, em vez de aplaudir, as pessoas mantiveram-se em silêncio e, de repente, começaram a apupar um perplexo ditador, que se pôs em fuga. Nas horas seguintes, houve ferozes combates de rua. A violência fez mais de mil mortos. Formou-se uma junta de salvação e quem não teve tempo de mudar de campo foi eliminado. Capturados pelo exército no dia seguinte, o ditador e a sua mulher foram submetidos a julgamento sumário e fuzilados no dia de Natal. A eliminação do ditador é ainda hoje um mistério e, para muitos, incluindo Lászlo Tökes, a revolução foi roubada ao povo. Nos anos seguintes, a Roménia viveu uma transição difícil e, apesar de ter entrado na UE, o país continua a ser um dos mais pobres da Europa. As sondagens indicam que um em cada dois romenos acha que vivia melhor na ditadura. Os milionários têm ligações ao antigo regime e a corrupção é geral. Persistem os problemas das minorias, da crise e da má política. Os intelectuais dizem que serão precisos mais 20 anos para completar a transição democrática e cumprir a revolução de 1989.

 
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