Passam-se os anos e a pergunta é a mesma: no Dia Mundial da Água, o que há para se comemorar, uma vez que dados da ONU apontam que mais de 780 milhões de pessoas, em todo o mundo, ainda, não têm acesso à água potável?
Talvez precisemos refletir sobre como o crescimento populacional, de certo modo desconectado de um processo continuado de educação para o uso sustentável dos recursos naturais, além da morosidade nas políticas públicas de acesso a água de qualidade, tem remetido milhões de pessoas.
Existe uma curva crescente da população para o consumo dos recursos naturais e, na contramão, há uma curva decrescente da qualidade destes recursos naturais, principalmente da água enquanto fonte de vida.
Não se pode negar que hoje a temática de uso sustentável dos recursos naturais, com enfoque para a água como fonte de vida, está mais presente nas pautas de debate por todo o mundo. Talvez, pelo menos, isso se possa comemorar!
Mas também é verdade que há muitos chavões, muitos pronunciamentos em nome da sustentabilidade e poucas ações concretas para permitir acesso à água de qualidade, sobretudo para as populações mais sofridas.
Entretanto, avalio que, no semiárido brasileiro, muitas iniciativas vêm se materializando em políticas públicas de acesso à água de qualidade para populações de baixa renda. São iniciativas de organizações de apoio e de base, que, por meio da promoção do encontro de saberes locais, vêm estruturando as propriedades da agricultura familiar na busca da eficiência na captação e manejo de água da chuva destinada ao consumo humano, para dessedentar os animais, para a produção etc.
São iniciativas que geram empoderamento das famílias para melhor conviver com o fenômeno ocasionado pelas mudanças climáticas, que, particularmente no semiárido, provocam periodicamente grandes secas, ocasionando impactos de prejuízos incalculáveis nas vidas das pessoas, semelhante a que está sendo vivenciada desde o ano passado. São situações que precisam ser enfrentadas pelos agricultores e agricultoras de base familiar, que ainda não têm suas propriedades estruturadas com reservatórios para captação e manejo de água de chuva....
Talvez possamos comemorar também essas iniciativas, as novas invenções e os esforços de alguns para cuidar e economizar água. Porém ainda precisamos de mais. Devemos lembrar que os recursos naturais também têm seus limites, pois a população está
crescendo! Portanto, há outra necessidade urgente. Trata-se da
necessidade de investimento público massivo no processo educacional. O
que está sendo construído no âmbito da convivência com a realidade
semiárida ou mesmo no âmbito de abastecimento de outras regiões que não
têm problemas como os do semiárido necessita urgentemente fazer parte
dos currículos escolares. É necessário preparar caminhos para a
sustentabilidade de futuras gerações a partir de uma estratégia de
consumo sustentável, de consumo consciente dos recursos naturais. E a
educação é o principal canal para esse processo. Então, o que podemos comemorar neste dia mundial da água? Se você ainda a tem, então, cuide dela e comemore o fato de ainda tê-la