A vida dos supostos ídolos deste país anda tão surpreendente quanto o cotidiano do meu dentista. Se algum famoso é flagrado hoje com o dedo no nariz, está moralmente condenado a passar os próximos seis meses se desculpando na Contigo. Cadê o Tim Maia para dizer que "não bebe, não fuma, não cheira, só mente um pouco"? E o Renato Russo para quebrar o pau com o público de vez enquando? E o porra-louca do Cazuza pra esculhambar geral, cadê?
Este tipo genuíno e religioso de ídolo, imune a anestesias, não existe mais por aqui. E a culpa é sua, é nossa, que nos contentamos em idolatrar o anestésico esquema "disco, show e comercial de refrigerante", uma rotina tão dormente que até meu dentista se saíria melhor nela que muito artista por aí. Mas nesse caso alguém teria de tratar das minhas cáries. Quem? Pelo que se conta de algumas histórias, banda de rock se forma quando quatro moleques decidem justamente pular o muro do colégio. Por isso, se as escolas brasileiras alfabetizassem, já estava ótimo. Imagina que maravilha as bandas emos rimando além do "corno infinitivo": "Se você me deixar, eu vou chorar até cansar".
Por tanto vamos todos enfiar o dedo no nariz, é para isso que servem os ídolos. Se o Keith Richards pode dizer que cheirou o próprio pai, e se a Amy Winehouse pode ser fotografada no meio da rua descalça e de sutiã, por quê ainda não flagraram a Sandy comendo chantili pelada em cima de uma árvore às quatro da manhã? Eu confesso, cheguei a pensar que a Pitty pudesse trocar alguns móveis de lugar nessa recepção de consultório odontológico, em que se transformou a nossa música. Por isso pense, gaste, viva, fale, compre, leia, vote, não se esqueça, seja, ouça, diga...
Autor: Miguel Sokol
Postado por Wilke Lima
Imagem: Tim Maia by Marcos Souza
Nossa que isso e demais eu gostaria de ser um idolo da musica aliais quem não gostaria ?
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