Uma em cada 14 mulheres já foi – ao menos uma vez em sua vida – vítima de abuso sexual por alguém que não é seu parceiro. A informação é resultado de um estudo realizado em 56 países e publicado nesta quarta-feira (12) na revista The Lancet, uma das publicações científicas mais respeitadas na área de saúde pública.
No entanto, a própria publicação sublinha que o medo de ser responsabilizada e a falta de apoio de família, amigos e serviços públicos leva a um número menor de denúncias e afeta a ajuda que deveria ser dada às vítimas. Além disso, sabe-se que a forma mais comum de violência contra a mulher é perpetrada por um parceiro íntimo, segundo a ONU.
Na pesquisa apresentada pela Lancet, os autores afirmam que a situação varia muito de país para país. Enquanto na Região Central da África Subsaariana a taxa de mulheres vítimas de abusos chega a 21%, na Ásia a média é de 3,3%. A média mundial de mulheres com 15 anos ou mais que dizem ter sido atacadas sexualmente por alguém que não é seu parceiro é de 7,2%.
O estudo, realizado em parceira com a Organização Mundial de Saúde (OMS), foi realizada com base em estudos publicados entre 1998 e 2011, recolhendo 412 estimativas em 56 países. Na introdução, os autores do estudo citam os casos de estupro coletivo de mulheres jovens na Índia e na África do Sul. De 2012 para cá, os casos reverberaram na imprensa e provocaram comoção popular, especialmente na Índia, onde ocorreram uma série de manifestações. Dados da Organização das Nações Unidas (ONU) apontam para uma situação mais sombria se for levado em consideração o número de mulheres vítimas de violência em geral. Cerca de 70% das mulheres do mundo sofrem algum tipo de violência no decorrer de sua vida, diz a organização. Em todo o mundo, uma em cada cinco mulheres será vítima de estupro ou tentativa de estupro, calcula a ONU.
A violência sexual contra as mulheres é vista como uma questão de saúde pública no mundo. Mulheres com idades entre 15 e 44 anos correm mais risco de serem estupradas e espancadas do que de sofrer de câncer ou acidentes de carro. No Brasil, a situação também é alarmante. Uma pesquisa do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) divulgado em 2013 estima que o Brasil registrou entre 2009 e 2011 quase 17 mil mortes de mulheres por conflito de gênero, o chamado feminicídio, que acontece pelo fato de ser mulher. Ou seja, 5.664 mulheres são assassinadas de forma violentada por ano ou 15 a cada 90 minutos. As maiores taxas sobre a violência sexual foram registradas na África Subsaariana, com um recorde de 21% na África Central e 17,4% na África Austral. Na América Latina, a região andina lidera o ranking (16,6%), seguida pela América Central (9,3%) e Brasil (8,3%). No Cone Sul, Argentina e Uruguai têm uma incidência muito menor (1,9%). As taxas observadas no Sul da Ásia também são mais baixas (3,3%), assim como no Norte da África e no Oriente Médio (4,5%).
Na Europa, a situação é mais contrastada: os países da Europa Oriental têm as taxas mais baixas (6,9%), contra 10,7% na Europa Central e 11,5% na Europa Ocidental.