(ANSA) - Uma corrida encerrada muito rapidamente. O choque. O mundo chora. Aquele belo e triste sorriso se torna imortal. Ayrton Senna não era um campeão como os outros, pois podia pilotar uma máquina qualquer e a cor não fazia muita diferença: os torcedores sempre o seguiam porque era ele que todos amavam. Vinte anos sem o piloto é muito tempo, a Fórmula 1 é outra, escreveu páginas para outros campeões, viu muitos desafios e teve fases de tédio, mas aquela batida mortal no dia 1º de maio de 1994 tirou para sempre um pouco da sua alma. Em Ímola, a morte tão cruel de um piloto vindo de São Paulo, assinalou uma linha entre o que existia antes e o que não iria mais ocorrer. E não somente os duelos na pista com Alain Prost, ódio possível de ver através do desgaste dos pneus e dos olhares "de fogo", mas também de respeito e agonia pura, o amor que nunca foi concretizado com a Ferrari - que não pode escrever em sua história o nome do maior campeão. Para a Fórmula 1, naquele 1º de maio faltou um campeão, que a morte prematura e violenta transformou em herói antes da hora. Tinha 34 anos completados há pouco tempo, três mundiais já conquistados e uma inquietude quase mais forte que ele: quase renunciou àquela corrida de domingo na pista de Ímola, após péssimos presságios.
O final de semana "maldito" começou com um acidente sem gravidade de Rubens Barrichello, seguido pela morte trágica no sábado de Roland Ratzemberger, num acidente na curva Villeneuve, que tirou a vida do piloto austríaco. A morte de Ratzemberger abalou a todos, Senna primeiro. Tanto que o brasileiro foi para a corrida carregando uma bandeira da Áustria com ele, caso tivesse ganhado a prova, iria balançá-la no carro após a bandeirada final, como forma de homenagear o piloto austríaco.
Aquela bandeira foi encontrada na Williams suja de sangue de Senna. O brasileiro teve medo naquele final de semana e declarou que "ninguém havia obrigado eles a correr, mas que ninguém era pago para morrer". Ele criticava as regras que haviam tirado a segurança dos carros para privilegiar a velocidade. Na estrada, aquele rapaz pensativo e sempre em busca da paz interior (dizia que a encontrava em Deus), começou em categorias menores ainda no Brasil e estreou na F1 em casa, em 1984, guiando a Toleman-Hart. Tinha 24 anos e por 10 anos, tirando algumas temporadas de pouca sorte, permaneceu como o número um.
E também com a pequena escuderia inglesa conseguiu resultados extraordinários, como a segunda colocação em Mônaco debaixo de uma intensa tempestade. E isso já mostrava o talento de Senna: as corridas na chuva e a rivalidade com Prost. Em 1985, na passagem pela Lotus, com suas sete pole-positions e as provas em que era imbatível. Senna morreu na curva Tamburello devido ao colapso da coluna de direção do carro. A batida do carro. O barulho tremendo. A lesão mortal. O socorro na pista, os telões que mostravam o corpo sem movimento no carro. A corrida até o hospital de Bologna, a esperança que seguia com o helicóptero. Até que o coração parou de bater por causa de uma grande lesão na base do crânio. A tragédia chegou rápido, atravessou as televisões e deixou o mundo e um país, o Brasil, afogado na dor.
Porque Senna não era como todos, era um predestinado, o campeão dos sonhos e da melancolia, do samba e da saudade.
Há vinte anos, Senna é o túmulo número 11 no cemitério do Morumbi, em São Paulo. Na lápide, a bandeira do Brasil e um epitáfio simples: "Nada pode me separar do amor de Deus".
Ninguém o esqueceu porque aquele sorriso não ficou gasto. A louca corrida terminou cedo demais, mas o entregou para o mundo para sempre.