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Divas da música do novo milênio fazem tudo para aparecer

04 fevereiro 2013
 Com a entronização do vale-tudo como principal forma de acesso ao estrelato musical, não são poucas as cantoras que têm lançado mão de qualquer expediente, no intuito de se destacar na cada vez mais concorrida cena pop. No novo milênio, todas querem ser ouvidas, mas não necessariamente pelo mérito de suas vozes. Um desvio perverso que se agiganta em meio à contundência do banal, ao consumo desenfreado e às frenéticas armadilhas da nova ordem tecnológica, em que a ausência de pontos de apoio se contrapõe ao excesso de linhas de fuga, derivas e derrelições. Nesse sentido, nada mais exemplar que o surgimento da norte-americana Ke$ha, uma louraça belzebu que não deixa dúvidas quanto à intenção mercadológica de sua “arte” ao grafar o codinome que ostenta com um cifrão maiúsculo. Simultaneamente apalermada e pretensiosa, ela estourou nas paradas com TikTok, um híbrido rap-pop no qual se vangloriava por escovar os dentes com... Jack Daniel’s. Denunciada publicamente por se valer de recursos eletrônicos como autotunes e vocoders para alterar a voz (a ponto de um crítico da Billboard se perguntar se Ke$ha seria capaz de cantar de verdade), agora ela tenta novamente angariar a atenção das massas via Warrior. Envergando apliques de mega-hair, lábios besuntados de batom turquesa e microssaia de cacos metálicos no afã de posar como uma guerreira pós-apocalíptica na capa do novo CD, desta feita Ke$ha quer nos impingir uma mistureba electro-glam-trash, aparentemente inspirada no rock dos anos 1970. Bobagem. Nem mesmo a cooptação de Iggy Pop na faixa Dirty love consegue disfarçar a natureza caricatural do disco; outro acinte artístico cometido por essa pseudo bad girl, que não passa de mais uma patética marionete manipulada ao bel-prazer dos interesses do marketing digital.



 Mas, se para muitos Ke$ha não passa de uma Lady Gaga dos pobres, o que dizer das bizarras atrocidades cometidas por Nicki Minaj? Nascida no arquipélago caribenho de Trinidade e Tobago, essa rapper negra ganhou rápida notoriedade não exatamente pelo valor de sua música. Dona de um figurino que inclui grotescas perucas e roupas de feitio e colorido chamativos, Minaj teve sua carreira alavancada pelo patrocínio conjunto das megacorporações Pepsi, Casio, Nokia, Adidas e Mac Cosméticos. Socos tomados na boca, divulgação nas redes sociais de fitas em que aparece fazendo sexo com um ex-namorado, relações bissexuais mantidas com a não menos barraqueira Rihanna e um bate-boca cabeludo com Mariah Carey na TV são apenas alguns dos escândalos protagonizados por Minaj, de modo a se manter em evidência na mídia. Exageros que explicam a edição do chamativo Pink-the re-up, álbum contendo dois CDs e um DVD, que não passa de uma nova forma de vender o prévio Pink friday: Roman reloaded, reforçado por desconexas tomadas de bastidores e meia dúzia de pífias canções inéditas. Apesar da natureza rasa do rap-chiclete na qual baseou a carreira, Nicki Minaj hoje ostenta o recorde de 1 bilhão de acessos de seus vídeos no YouTube. Um grotesco produto ambulante pronto para consumo cujos múltiplos alter egos são mero pretexto para escancarar toda a estrutura corporativa da qual se nutrem suas nocivas incursões musicais.


 Por seu turno, a nova-iorquina Christina Aguilera conheceu precocemente as engrenagens do show-business: quando tinha apenas 12 anos, o império Disney tratou de aliciá-la para o elenco do show televisivo O Clube do Mickey. Sempre mudando de estilo musical e visual a um estalar de dedos de seus produtores, Aguilera já foi inocente cantora pop, cow-girl trespassada por piercings, comportada garota-propaganda da Coca-Cola, Pepsi e Mercedes-Benz, pin-up retrô, skinhead alcoólatra, robóticadominatrix e um patético efeito colateral da mania dos bronzeamentos artificiais. Hoje, ostentando um look que a um só tempo remete a um clone oxigenado de Cher e um arremedo da Vênus de Botticelli, ela se esforça para fugir da lama corporativa na qual afundou – depois de atribulado divórcio e do fracasso do prévio Bionic – por meio do recém-lançado Lotus. No disco, mesmo com a ajuda do onipresente autotune e de outras engenhocas eletrônicas para modificar a voz, Aguilera parece meio perdida, enquanto rodopia atabalhoadamente entre gêneros como dubstep, electro-pop, hip-hop, indie-rock, rhythm’n blues e country & western. Em vão, amigos como CeeLo Green, Adam Levine (Maroon 5) e Blake Shelton tentam animar uma festa que já começou caidaça. Aliás, para uma gravação supostamente gerada para prover uma espécie de renascimento, Lotus, infelizmente, mais se parece com um involuntário aborto sem rosto.



O que ao final nos deixa às voltas com as peripécias da megahypada Rihanna. Para além de seus esforços “musicais”, a cantora de Barbados vira e mexe consegue cavar espaço na mídia pela extravagância de comportamento. Vide um sem-número de produções fashion de gosto duvidoso (que tal o moleton de ginástica com um nó na frente casado com um par de scarpins azuis de salto agulha e meias soquete arrastão que a moçoila usou para desfilar semana passada em Londres?), vídeos recheados com imagens violentas e sadomasoquistas, o pit-stop que deu no meio de uma música em Lisboa para um vômito amigo e a notória coleção de hematomas conquistada por conta das frequentes surras que levou do ex-namorado Chris Brown. Ainda que desprovida da overdose de silicone que a arquirrival Beyoncé exibe no corpo inteiro, Rihanna não se fez de rogada e se deixou fotografar com uma nova tatuagem entre seus devidamente turbinados seios para a capa do CD Unapologetic. Ancorado no batidão do dubstep, a gravação também se valeu de modismos como as remixagens hip-hop chamadas de “choppedandscrewed” e de fiapos genéricos de reggae, disco e dance-pop. Tal con(fusão) estilística reverbera nas letras do disco, onde, “sem remorso”, Rihanna explora em sórdidos detalhes sua relação disfuncional com o rapper Chris Brown e outras cavas mazelas romântico-existenciais. Em suma, um disco tão doentio quanto o mercado que o acolhe: já na primeira semana de lançamento, Unapologetic se viu catapultado ao primeiro lugar na lista de álbuns mais vendidos dos EUA.  ( Diario de Pernambuco) 



Essa matéria do  site Diário de Pernambuco está perfeita. Mas nesse bolo recheado de marketing e briga por aparições, faltou falar da rainha de todas, a Lady Gaga. Essa mais do que todas as outras faz questão de aparecer não por suas músicas, mas sim pelo que faz , fala e veste fora dos palcos. Roupas bizarras, cabelos ridículos e declarações de efeito são sempre as suas armas para estar quase todo dia estampada em capas de revistas e sendo notícias em vários sites.  Ou seja, o que é considerado sucesso hoje, não é preciso saber cantar ou ter uma bela voz, basta saber polemizar, aparecer, causar, porque neste meio, o que menos está importando é a música, e o que mais importa é se você vai dar audiência e claro, muito lucro com a sua imagem.  E viva aos novos tempos, curta, E APAREÇA

 
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