Elis Regina morreu há exatos 30 anos. Levou junto o choro incrédulo dos fãs, promessas de novos discos, a admiração de seus pares e um título até hoje imbatível: o de maior intérprete feminina da música brasileira. Para quem conviveu com ela ou assistiu seus shows, a cantora está cada vez melhor. Para as novas gerações, é um nome de respeito, uma referência que nunca envelhece. Quando se mergulha na história cultural do país, aí mesmo que não tem pra ninguém: ela foi tão grande e tão genial que sua marca dificilmente será batida. A começar porque Elis foi pioneira na vendagem de discos – foram um milhão de cópias com “Dois na Bossa”, que gravou junto com Jair Rodrigues em 1969, algo que nenhum artista brasileiro tinha alcançado antes. Também foi ela quem venceu o primeiro Festival de Música Brasileira realizado no país, em 1965, quando defendeu “Arrastão”, de Edu Lobo e Vinicius de Moraes. Outra marca importante: seu show “Falso Brilhante” ficou mais de um ano em cartaz, entre 1976 e 1977.
Para coroar os argumentos que comprovam a grandeza da cantora, basta lembrar que ela lançou compositores como João Bosco, Belchior, Fagner, Ivan Lins e ninguém menos que Milton Nascimento. Outro legado de Elis são seus três filhos, João Marcelo, Pedro e Maria Rita. Todos são músicos e estão trilhandos seus caminhos profissionais, sem esquecer de perpetuar a memória da mãe. O jornalista gaúcho Juarez Fonseca foi um dos privilegiados na convivência com Elis. Foram várias entrevistas concedidas em Porto Alegre, muitas cartas trocadas e um vai-e-vem de ideias e de impressões. Crítico de música, Fonseca acompanhou de perto as andanças da geração que ele considera a “mais genial e brilhante” da música brasileira. “E Elis foi a intérprete desta geração, começou junto com Caetano Veloso, Chico Buarque, Gilberto Gil, Edu Lobo, Roberto Carlos. Ela cantou as mú-sicas de todos”.
Também nunca deixou de se atualizar, nunca parou no tempo. “A maioria das novas cantoras diz que é influenciada por ela, mesmo 30 anos depois da sua morte”. Outro fator determinante é que a geração de Elis tinha a televisão. “Eles surgiram na televisão, apareciam todos os dias em horário nobre, era um veículo musical”. O jornalista lembra de uma gravação do programa "O Fino da Bossa", em que Elis Regina, ainda novata, recebeu Ciro Monteiro, um monumento da música na época. E ele saudou Elis dizendo que era muito bom estar ao lado daquela “figurinha” recém-chegada, que já era brilhante e talentosa. Mas Fonseca também acha que é uma questão de estrela. "Há artistas que têm alguma coisa especial. É que nem ser um Messi ou um Pelé, esses caras são únicos no futebol”, avalia. “E Elis é única na música”. A matéria é do site da Band.